E lá estava eu, entre a partida do braço esquerdo da família e a raiz nova de meu primo. Meu coração, antes em ágil palpitação de angústia, acomodava-se com a gritaria das crianças. Era só eu cambalear que logo ele aparecia, pedindo para que eu lhe ensinasse a passar daquela fase de um jogo que meus olhos já vêem com olhos de adulto. No começo da noite, a despedida do meu avô, tronco forte de horários rígidos, foi cedo para cama, para matar de insônia mais uma noite e enganar-se com a verdade de quem acorda cedo, começa o dia bem. Até as verdades têm exceções. Mas meu primo veio e com ele, a ausência de retrovisores. - Posso dormir contigo? - Ele perguntou. - Claro - concordei de imediato. Gravei no celular sua voz declamando frases repetidas da televisão - como as crianças têm memória e eu a perdi. E lá estava eu, deitado, abraçado com meu primo de 5 anos, cantando alguma música que ele só irá entender a letra daqui uns dez anos. Fiz carinho nos seus cabelos - ainda consigo sentir o alívio. E o abracei. Nossa, um anjo, um ser humano perfeito, sem pecado, sem nada de ruim, sem nenhuma mancha do amor mal construído. Nada, só a felicidade em corpo e a vontade de brincar pela rua. E eu, por aquela noite, era o super-herói que o protegia dos inimigos dos quadrinhos, era o homem de seus desenhos. Eu, logo eu, estava ali. Eu, que beijei o fundo da piscina e tentei me afogar. Eu que esqueci de sentar à mesa na hora do jantar. Eu que me enrolei na cortina da sala. Eu que fiz gente sofrer por vaidade e desgosto. Eu merecia? Mas me era dado de graça, um amor dado de graça, como uma pílula. Eu trabalharia o dia todo por aquela criança e imaginei - e se fosse o meu filho? Nossa, me lembro como se fosse ontem do aperto imediato no peito, a vontade de tudo esquecer. E se fosse meu filho, eu o amaria, como nunca tinha amado outra pessoa na vida. Eu faria de tudo por ele.
Como sou bobo e idiota, não eras tu que querias ter uma vida de aventuras, morrer cedo e não ter filhos? Como eu era idiota em não querer viver o amor. E me veio de que todos foram crianças um dia e que todos não precisavam ser mudados, porque eram bons. O mundo que tinha as feito esquecido de pensar e decidir entre ser criança e ser um animal que segue instintos.
Minha mãe dormia, mas a mensagem se guardou no tempo e depois se revelou para ela:
"Minha mãe, há vinte anos a senhora é minha mãe, mas só agora eu entendo o quanto teu amor é grande por mim."
Como sou bobo e idiota, não eras tu que querias ter uma vida de aventuras, morrer cedo e não ter filhos? Como eu era idiota em não querer viver o amor. E me veio de que todos foram crianças um dia e que todos não precisavam ser mudados, porque eram bons. O mundo que tinha as feito esquecido de pensar e decidir entre ser criança e ser um animal que segue instintos.
Minha mãe dormia, mas a mensagem se guardou no tempo e depois se revelou para ela:
"Minha mãe, há vinte anos a senhora é minha mãe, mas só agora eu entendo o quanto teu amor é grande por mim."